segunda-feira, 25 de março de 2013

Obrigado, doutores


A propalada busca pela longevidade moderna com as novas descobertas da ciência e da medicina força o homem a querer viver muitos e muitos anos além, até porque precisa disso para alcançar a cada vez mais longínqua aposentadoria. Depois de uma certa idade começamos a ter muitos amigos médicos. Não, são médicos amigos. Pelo menos é o que imaginamos. No mínimo, no mínimo, aos quarenta estreitamos laços com o nosso cardiologista, com o ecocardiograma, o colesterol, o triglicerídeos, e as inúmeras taxas que nunca sonhamos que existinssem.

Caso dermos o azar das taxas estarem alteradas o cardiologista nos apresenta mais um médico amigo: o endocrinologista. E ai as taxas que medem nossa saúde (ou seria a falta dela?) se multiplicam. Mas olhemos pelo lado positivo. Temos pelo menos mais dois “amigos” para visitar no mínimo a cada seis meses. Claro que eles, solidários, nos apresentam ao farmacêutico amigo. E assim nossa rede de amizades começa a crescer em ritmo geométrico.

Na sequencia vem o urologista. Depois dos 45 anos temos obrigação de cuidar rotineiramente da próstata e descuidar, digamos assim, de outra parte da anatomia que cuidamos com extremo o carinho a vida toda. Pelos menos alguns. Mais um médico amigo e esse de uma amizade especial porque somente com ele expomos nossa intimidade plenamente, deixamos os preconceitos. Isso se não somos apresentados ao proctologista.

Tantas preocupações com nosso corpo que precisa estar na melhor forma possível para que cheguemos a aposentadoria acabam gerando tensões musculares e dores. Mas nada que um bom ortopedista amigo não resolva com sua abnegação e um antiinflamatório, que pode interferir na pressão arterial e nos leva a visitar o cardiologista amigo com mais frenquencia. E, como às vezes é impossível controlar os efeitos colaterais ele nos salva com mais químicos e o farmacêutico amigo vira um confidente rotineiro.

 Os milagrosos remédios modernos, claro, não mantém nossa longevidade produtiva, não vamos nos esquecer que queremos chegar na aposentadoria, sem cobrar um preço, além do pago ao farmacêutico. E ai nossos médicos amigos tão zelosos nos apresentam o gastroenterologista. Outro amigo que vai nos conhecer mais profundamente por dentro. E, quanto mais somos bem cuidados e vivemos, mais conhecemos nos médicos amigos.

O pneumologista, o angiologista, o dermatologista, o oftalmologista, que vai nos ajudar a continuar vendo a longínqua aposentadoria, e outros tantos. Seguimos os anos amealhando médicos amigos até que nos apresentam o neurologista, porque começamos a esquecer dessas amizades cultivadas por anos seguidos. Provavelmente nessa etapa da vida já chegamos a tão almejada aposentaria, mas, certamente, não sabemos mais direito o que fazer com ela.

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