quinta-feira, 19 de julho de 2018

Diarreia cibernética



Chiko Kuneski

Às vezes tenho toda a vontade de vociferar. Vá à merda, modernidade. Mas seria cruel demais com a merda. Ela nos sai limpando, expelindo o mal, expurgando o “gurgitar” (licença poética da antítese). Sai mais pura que a putrefeita enfadonha que nos empurram goela a baixo.

A modernidade é perfeita. Até seu primeiro “bug”. Primeiro, segundo, terceiro, primeiro que gerou o segundo que tinha que ter sido resolvido no primeiro e que gerou o terceiro. Nesse conjunto numerário vem um quarto. O cidadão, moderno, que tem que entender que a modernidade é um conjunto de problemas; não de soluções.

Mas você não pode ter um “bug”. Você não tem o direito de ser um besouro no sistema. Não nesse sistema. Você é um mero Bit, quando muito um Bite, para poucos. Só o sistema tem o direito de dar pane. Você é humano. Entenda. Engula. Vomite. Cague.

Está na hora de cagarmos para a modernidade tecnológica. Ou ela vai continuar cagando sobre nós as nossas próprias fezes.


segunda-feira, 16 de julho de 2018

O VAR humano



“Nada que a tecnológica e fria lente captura não foi visto antes pelo olhar do Homem”.

Chiko Kuneski

Acabou...acabou a catarse. A Copa é catártica. É a fantasia máxima. A verdadeira personificação do bem e do mal. Do céu e inferno. Que elege divindades terrenas, feito os deuses do Olimpo a escolher seus favoritos. Somente na Copa do Mundo somos milhões de deuses. É a magia que faz torcer até pelo desconhecido. Mas, como toda catarse, tem prazo de validade.

Especialmente para os que já a frequentaram por décadas. Jogadores, técnicos e torcedores. A Copa é como uma cópula. Orgástica. Um conjunto de corpos suando. Vem num crescente. Começa no exagero e afunila para o mágico. Mas acaba num súbito inexplicável. Bons para uns; satisfatório para outros. Mas é uma cópula universal.

A Copa da Rússia foi a primeira realmente do século XXI. Tecnológica. Sobre humana. O frio olhar angulado das câmeras decidiu jogos, resultados, carreiras e vidas. P       ela primeira vez nós, os apitadores de televisão, nos sentimos juízes do jogo. Não decidimos, até porque seria impossível uma decisão unânime de milhões. Mas vimos o mesmo que o árbitro viu. Julgamos. Absolvemos e condenamos.

Três letras. VAR (Video Assistant Referee), em inglês, ou árbitro de vídeo, em bom português, determinou destinos na Copa. Uns detestaram. Outros aprovaram. Como qualquer árbitro foi aplaudido quando a favor e criticado quanto contra. É do torcedor. Contestar até o incontestável. A paixão é cega e, com diz Mauro Pandolfi, “futebol é um jogo de olhares”.

Difícil, ou quase impossível, ter olhares em catarse. Só há paixão. O VAR, tão temido por muitos, muitos aos quais me incluía, por  poder destruir a grande magia da ludicidade da dúvida do futebol. Criou uma nova tendência. A do erro da imagem. O futebol é tão mágico que nem o frio olhar das lentes arrefece a paixão.

Empáfia argentina e enganação

Chiko Kuneski Existe uma piada da época em que não havia o politicamente correto que diz: “o melhor negócio do mundo é comprar um argent...