sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Desmoronando a crença



Chiko Kuneski

Sempre comunguei com o enunciado que um homem dever ter pelos menos uma fé absoluta e fazer dela sua religião particular. O meu ritual místico é o futebol. Encarna-se no manto sagrado rubro-negro. Meu time em campo é mais que futebol é adoração é veneração é uma religião pagã de ídolos passageiros.

Um padre jesuíta me disse certa vez que todo homem tem direito a uma paixão imutável. Acho que entendeu que a minha tem nome: Flamengo. Assistir o rubro-negro é mais que ver futebol; é adorar os 90 minutos do “culto” mágico de sair de uma realidade para uma fantasia absoluta de plenitude ou frustração. Professar a fé por um time é ir do nirvana ao inferno, e isso pode acontecer em meros segundos dentro do atemporal cronômetro do torcedor.

O inferno é bem mais fácil nesse fascínio místico. Acho mesmo que até mais comum e lógico. Mas não existe lógica na paixão.

E o inferno parece se apoderar mais rapidamente quando há um motivo. A cada dor se espera uma analgesia. Algo que suprima os sintomas. Traga meros momentos de relaxamento. O futebol serve também para isso. O futebol com paixão é uma morfina da alma ministrada via adrenalina. Aclama, relaxa, tira a dor, sossega.

Respirei isso o dia todo. A morfina da “alma” no Fla Flu. A emoção pelas homenagens de dez adolescentes que morreram por um sonho, talvez o mesmo sonho que o meu da paixão do futebol e de um clube escolhido na pureza de criança, aumentou a adrenalina. Pilhei. Vesti o manto. Tomei no cálice. Endorfinei.

Mas o inferno é mais fácil que o nirvana. Decepção. Desilusão. Paixão desconexa. Dor. Novamente a dor. Tudo provocado por um time sem paixão. Sem honra do manto. Sem respeito aos que deram a vida pela religião de torcer pelo Flamengo. Covardes, acovardados. Midiaticos no sofrimento. Mentirosos. Enganadores dos enganados.

Um time sem alma. Sem espírito de luta. Sem vontade. Sem rumo. Sem comandante. Um Flamengo que me balança a paixão de criança. Meramente o um grupo de corpos falsamente vestindo um manto de que não foram dignos. Um embuste.

Voltei a chorar pelos dez meninos que deram corpo e alma por sua paixão. Os homens em campo praguejei.

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