Cada vez que morre um
famoso que marcou vidas; nasce um ídolo, um herói de carne e osso. Um mito
materializado na fantasia de menino ou na lembrança de adulto. Vivemos dos
mitos. Dos deuses criados. Dos heróis. Foi o dia de Muhammad Ali. O golpeador
do convencional. Transgressor. Dançarino. Malhador a remoldar o retilíneo do
duro vigor dos adversários.
Meu primeiro e grande herói
tem nome de um deus grego: Dionísio, o deus agricultor das uvas e do vinho, mas
também um representante não convencional da sociedade , do rompimento poder. Na mitologia grega, o único deus filho de uma
mortal. Até os deuses morrem. Os heróis são imortais.
Comecei falando de um
ídolo do tubo, mas prefiro continuar com um herói que abraçava. Meu pai. Sem superpoderes,
sem magia, sem ser guerreiro, mas com a maior virtude humana: festivo. Somente os
festivos são transgressores. O ranço leva a mesmice. Ao comum. O ídolo midiático
e meu herói palpável tinham isso em comum.
Festivo talvez devesse
ser o maior adjetivo do herói terreno. Alegre. Honesto. Sensível. Pacífico,
amigo e respeitador. Mesmo quando golpeava o ferro em brasa para moldar as
formas.
Meu grande herói era
apenas um metalúrgico. Um construtor de instrumentos que construíam sonhos. Desejos.
Erguiam mundos. Um inventivo do duro metal retilíneo. Um idealizador tridimensional
do plano. Simples, mas com o conceito do mais requintado escultor. Um moldador.
Forjava a forma. Construía o forte.
Começou carregando-me
nos ombros num momento mágico do menino apaixonado pelo futebol na conquista do
tri, 1970. Nos ombros por não poder andar. Fez-me voar. Depois deu-me muletas, asas
de aço construídas de sua curiosidade e seu conceitos de deus humano e de homem
metalúrgico. Forjador. Deu-me a sabedoria conselheira. A alegria genética
festiva, herdada pelo nome de um deus grego.
Foto do martelo artesanal me presenteado por meu pai Dionísio.