sexta-feira, 16 de julho de 2021


 

Impulso


Beijei a boca
Proibida
Proscrita
Querida
Provando cicuta
Corri o risco
Desmascarado
Do beijo arisco
Levado
Por desejo cevado
Arrisquei a vida
Sufocado
Num último prazer
Do beijo
Do gozo
Paguei pra ver
No hoje
Meu futuro
Meu novo amanhecer


Ck 15/07/20
Mas igual a 21
Pouco mudou

quarta-feira, 14 de julho de 2021

O hipocondríaco digital

Quando viu aquele revolucionário anúncio numas das suas tantas redes sociais, a ansiedade o obrigava a ficar 24 horas conectado com o mundo e o todo do mundo, mesmo as fakes, especialmente sobre descobertas fantásticas da medicina nunca noticiadas pelos enganadores meios de comunicação, finalmente descobriu um mecanismo perfeito. “Smart Whatch”, num atraente inglês. Um relógio inteligente que não os antigos e meros marcadores de hora, minutos, segundo, com seus irritantes ponteiros a dar voltas e voltas na sua incontável ansiedade.

Os neurônios fosforesceram. Acenderam o cérebro. Aqueceram os dutos entre eles e brilharam. Se o crânio fosse como aquele antigo modelo da Apple, revolucionário, do século passado, daria para ver seu interior brilhando com os bits biológicos esbarrando para conectar a euforia. Sentiu o coração disparar. O braço tremeu em espasmos e o antebraço levou o impulso até crispar os dedos. Na madrugada, no mais íntimo segredo que deveria ser escondido até de seu eterno analista sempre de plantão nas crises e com quem dividia os mais  até proibidos.

Ainda titubeou por interminável minuto enquanto seu cérebro informava o que o aparelho fazia. Media sinais. Um relógio o tempo todo em seu pulso substituindo uma parafernália de equipamentos. Pressão arterial, batimentos cardíacos, oxigenação do sangue, temperatura, glicemia e até um ECG (Eletrocardiograma), que custava uma fortuna nas visitas semanais ao cardiologista. Era o sonho virando realidade. Quando viu que além desses milagres ainda saberia quantas horas e como dormiu, para ele que tinha uma eterna insônia e, de brinde poderia ver as horas e ser informado das mensagens das redes sociais do celular, surtou.

Era um êxtase. O dedo, que parecia estar sofrendo de Parkinson, foi apertando todos os botões que vinham a sua frente. O cérebro não mais comandava. Apenas decodificava e preenchia os formulários com todos os dados sem pensar no final do processo. Suava frio. Respirava ofegante. Trêmulo. Impulsivo. Compra concluída. Ao contrário de alívio, saiu a catar um por um todos medidores para se certificar que não estava tendo uma síncope.

Pensou em ligar em plena madrugada para o analista, mas jurou a si mesmo não revelar tão grande segredo de sua cura.

 

Ck 14/7/21

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Escrevi esse poema como homenagem aos geniais artistas que perdemos na pandemia.
No dia da morte de um deles. Agora outro artista, Aurélio Bap, me brinda com novas asas musicais do poema.

 https://www.youtube.com/watch?v=EZtl14eU47A

sexta-feira, 18 de junho de 2021

 

Não se explica as coincidências das paixões

 

Ck

 

A primeira paixão futebolística é como a primeira namorada platônica, seja a menina da carteira do lado ou a intocável professora do alto da plataforma. Mas são as paixões que nunca se esquece. Na escolha do time, ou até dos times de futebol, é quase igual. A paixão logo ali do lado ou a distante. Às vezes, dependendo da época as duas. Essas nunca deixarão de ser as primeiras paixões e as que sempre povoam nossos sonhos até, para os mais insistentes, a morte.

 

Comigo a tal menina do lado do futebol foi o Paysandú, de Brusque, para os menos conhecedores do futebol, o verde e branco, e a professora o Flamengo, o rubro negro. Torcer para o Paysandú era ir a campo, gritar, ver ao vivo a magia dos passes, dos toques, dos gols gritados abraçando o alambrado como o melhor amigo. torcer pelo Flamengo era o platônico de apenas ver de longe pelo mágico tubo da televisão, em branco e preto, onde o preto era preto e o vermelho era cinza. Mas era o rubro negro sem alambrado. Era a paixão televisiva materializada nos botões do futebol de mesa a cores.

 

Duas paixões que sempre acordam nos sonhos para fatos. E os fatos mostram que os deuses do futebol gostam de brincar com as paixões. De suas coisas em comum e incomum.

 

Pois Paysandú e Flamengo, apesar de suas distâncias no futebol, o de Brusque na lembrança do menino do alambrado, o do Rio de Janeiro campeão do mundo, despertaram meu menino num falto insólito. Acho que não há essa coincidência no futebol brasileiro. Ambos foram campeões em campo sem títulos de fato ou outorgados.

 

Começando pelomais querido”, o Paysandú de Brusque foi campeão catarinense em 1956, jogando contra os principais clubes profissionais do estado dos times mais tradicionais do futebol catarinense. Foi campeão de fato em campo mas... Naquele ano a então organizadora do futebol do estado dividiu a disputa em dois torneios: o grupo especial (os times profissionais, entre eles o Paysandú) e o grupo da Liga (times amadores). Os dois campeãs dos grupos disputariam jogos finais para decidir o campeão de 1956. Paysandú venceu o grupo Professional, também chamado de Estadual. Foi o melhor dos times profissionais do estado.

 

Depois de três meses o torneio dos times amadores da Liga teve sua conclusão. A entidade do futebol estadual da época determinou que haveria uma disputa para decidir o campeão do estado. O Paysandú não mais treinava e dispensou mais da metade do time, enquanto o Operário, de Joinville, um time amador, continuava na disputa. Os dois jogaram as finais e o Operário venceu os dois jogos, sendo consagrado o único campeão de um torneio profissional com um time amador em Santa Catarina. Paysandú de Brusque foi o campeão estadual de Santa Catarina de 1956, mas o título acabou para o Operário.

 

Mas o que tem isso com o Flamengo do RJ? Loucura de torcedor por certo. Talvez paixão, a paixão é louca. Em 1987 a CBF não organizou o campeonato brasileiro. Um grupo de times, o Clube dos treze, resolveu organizar a disputa entre eles. A CBF voltou atrás e criou uma disputa nacional, como tantas outras dantes,  com dois módulos: O verde (dos times do Clube dos treze mais convidados) e o amarelo (o que seria a segunda divisão nacional). O Flamengo acabou campeão do Módulo Verde com o Internacional em segundo. no amarelo Sport Recife e Guarani foram decretado campeões depois de uma disputa de pênaltis que não acabou.

 

A CBF “virou a mesa” (a CBF sempre vira a mesa ao seus interesses e conveniências) e, como não houve campeão do Módulo Amarelo, decidiu que aconteceria um quadrangular entre os quatro melhores dos dois grupos. Flamengo e Inter e Sporte Recife e Guarani. Os times do Clube dos treze se recusaram a aceitar a “virada de mesa da CBF” e não jogaram as finais da CBF. Com os dois eliminados por WXO, Guarani e Sport Recife fizeram a final do campeonato brasileiro de 1987, com o Sport sendo decretado campeão pela CBF.

 

Como o Paysandú de 1956, campeão em campo, o Flamengo teve que brigar por esse título nacional, chegando até ao STF.

 

Minhas duas grandes paixões de infância no futebol, mesmo separadas por um grande diferencial de times, me brindaram com uma coincidência única de títulos de campões conquistados de fato em campo e reconquistados por direito. Talvez importante para um torcedor apaixonado. Talvez...

 

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Um hipocondríaco na Bahia

Semana passada o escritório me convocou para uma reunião na Bahia. Tenho medo de avião e sofro de pensar na ideia, mas como andava muito estressado e o chefe convocou tão gentilmente, aceitei. Tava mesmo precisando relaxar. E, pelo que todos dizem, na Bahia não relaxar para relaxados.

 

Nem preciso dizer que antes da viagem gastei todo o meu estoque e Rivotril. A ansiedade, não, o medo, não, o pânico, continha com as mágicas baguinhas. Mas sempre pensando que ia ser bom na Bahia. Todos sempre falam maravilhas de . No dia da viagem não cheguei no avião dormindo porque homem que é homem se garante. E dá-lhe Rivotril.

 

O vôo até que foi tranquilo. Fora as turbulências que impediram até o serviço de bordo com o apetitoso saquinho de amendoim quegazes e suco artificial perfeito para gastrite, o resto da viagem foi moleza. Moleza minha que apagava e acordava com os sacolejos. O rosto da aeromoça (moça?) me acordando em Salvador pareceu visão de um anjo. Finalmente em terra.

 

Mas tudo tem seu lado positivo, até os ímãs, e poucas horas em Salvador fizeram meu coração entrar na malemolência local. Santo remédio o clima. Deixei de tomar até meu betabloqueador. O pulso não precisava de ajuda química e batia no compasso da cidade. Se tomasse a baguinha do cardiologista ia acabar com bradicardia. Isso sim.

 

Entrei no ritmo do coração e resolvi aproveitar. Mas não tinha como não voltar ao “sul maravilha” e ler meus e-mails. Antes do jantar fui à sala de meios do hotel. Confesso que estranhei não ter ninguém e o barulho da batucada que rolava solta na piscina, mas precisava me conectar com a matriz. Por sorte os computadores estavam ligados. Vai que também estivessem no compasso?

 

Acessei ao meu Gmail. Normalmente basta uma clicada e as mensagens abrem em seguida. Normalmente, mas nada  tem ritmo normal na Bahia. Uns cinco minutos depois e nada. Nem uma resposta. Apenas a insuportável ampulheta rodando na tela.

 

Comecei a me sentir como no Sul. Peito apertado. na garganta.  Coração disparando. Suor frio nas mãos. fora a batucada. Na tela a ampulheta. A pressa. A necessidade. Arfava. A dor no peito forte e nem mais Rivotril tinha. Sacudi o monitor. Gritei. Reclamei. Soquei. entrando em pânico pela falta dos meus e-mails e remédios imprescindíveis, vi, finalmente, a tela abrir com a mensagem em letras garrafais:

 

PRA QUE A PRESSA, MEU REI.

 

Ck 9/6/21

Empáfia argentina e enganação

Chiko Kuneski Existe uma piada da época em que não havia o politicamente correto que diz: “o melhor negócio do mundo é comprar um argent...