Chiko Kuneski
Plagiando Caetano Veloso,
“argentino dança tango, ora lento, ora ligeiro...” Mas esse jogo não foi
marcado pelo passo do tango, do lado portenho foi uma bela milonga, arrastada,
sofrida, de flerte com a conquista e a dor da perda da sonhada e amada Copa.
Os passos de Messi e de
Di Maria tiraram os franceses para bailar em um ritmo diferente de compassos e
com passos inusitados. Conduziram a dança magistralmente, as vezes quase num
verdadeiro bolero de "dois para lá, dois pra cá". Mas a dança de
final de copa, e que final, é longa e, tal qual a milonga, arrastada.
Faltaram os passos derradeiros, faltaram as pernas da condução. Só que havia ainda a dança. A juventude do Cancan. A velocidade do sobe e desce. Dos pés ágeis buscando o vazio do espaço e, porque não, o rebolado maroto dos africanos da França. Esse bailado no tablado de grama e paixão, como define Mauro Antônio Pandolfi, tinha dois maestros. Um em sua mais importante apresentação: outro atrevido buscando galgar a genialidade do rival.
E assim foi o grande espetáculo dessa lunática Copa do Mundo do Qatar. Um gran finale de dois ritmos, dois passos, duas danças. Como toda a milonga, o sofrido sempre tem um segundo passo. Messi o teve. Desabou com o cotovelo de Montiel. Nova dor de cotovelo cantada num eterno tango de sofrimento?
Parece que os deuses do
futebol, sarcásticos, apenas desejavam prolongar a dança. A crueldade deles fez
a milonga prosseguir até o mesmo Montiel cobrar o pênalti que deu a Argentina
seu tricampeonato mundial e a Messi a tão desejada e merecida Copa. A crueldade
dos deuses guardava o sofrimento final para o derradeiro passo do tango.
Os deuses são milongueiros,
gostam de arrastar a última nota. Mas, quando querem são justos. Messi levou a
Argentina ao título. Foi o craque da Copa e está na história como o maior e
mais genial jogador de futebol do século XXI. Ou, talvez, de todos os tempos.