A
propalada busca pela longevidade moderna com as novas descobertas da ciência e
da medicina força o homem a querer viver muitos e muitos anos além, até porque precisa disso para alcançar a cada
vez mais longínqua aposentadoria. Depois de uma certa idade começamos a ter
muitos amigos médicos. Não, são médicos amigos. Pelo menos é o que imaginamos.
No mínimo, no mínimo, aos quarenta estreitamos laços com o nosso cardiologista,
com o ecocardiograma, o colesterol, o triglicerídeos, e as inúmeras taxas que
nunca sonhamos que existinssem.
Caso
dermos o azar das taxas estarem alteradas o cardiologista nos apresenta mais um
médico amigo: o endocrinologista. E ai as taxas que medem nossa saúde (ou seria
a falta dela?) se multiplicam. Mas olhemos pelo lado positivo. Temos pelo menos
mais dois “amigos” para visitar no mínimo a cada seis meses. Claro que eles,
solidários, nos apresentam ao farmacêutico amigo. E assim nossa rede de
amizades começa a crescer em ritmo geométrico.
Na
sequencia vem o urologista. Depois dos 45 anos temos obrigação de cuidar
rotineiramente da próstata e descuidar, digamos assim, de outra parte da
anatomia que cuidamos com extremo o carinho a vida toda. Pelos menos alguns.
Mais um médico amigo e esse de uma amizade especial porque somente com ele expomos
nossa intimidade plenamente, deixamos os preconceitos. Isso se não somos
apresentados ao proctologista.
Tantas
preocupações com nosso corpo que precisa estar na melhor forma possível para
que cheguemos a aposentadoria acabam gerando tensões musculares e dores. Mas
nada que um bom ortopedista amigo não resolva com sua abnegação e um
antiinflamatório, que pode interferir na pressão arterial e nos leva a visitar
o cardiologista amigo com mais frenquencia. E, como às vezes é impossível
controlar os efeitos colaterais ele nos salva com mais químicos e o
farmacêutico amigo vira um confidente rotineiro.
O
pneumologista, o angiologista, o dermatologista, o oftalmologista, que vai nos
ajudar a continuar vendo a longínqua aposentadoria, e outros tantos. Seguimos
os anos amealhando médicos amigos até que nos apresentam o neurologista, porque
começamos a esquecer dessas amizades cultivadas por anos seguidos.
Provavelmente nessa etapa da vida já chegamos a tão almejada aposentaria, mas,
certamente, não sabemos mais direito o que fazer com ela.