quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Futebol é coisa dos homens

A crescente exploração da fé pelos jogadores de futebol no Brasil com seus atos, camisetas com mensagens e exaltação do nome “do senhor” sempre do seu lado faz parecer que deus deixou de ser brasileiro para ser de um só brasileiro, no caso aquele atleta. Está ficando cada vez mais comum goleiros ajoelhados com os dedos para o alto como dois pára-raios celestes captando a proteção divina. Agem como se o gol, a fonte maior da alegria e delírio do futebol, que estão lá para evitar, seja algo diabolicamente ruim.


Atentemos também para as camisetas debaixo dos uniformes dos times usadas por alguns jogadores. Trazem grafado uma exaltação a palavra “deus”. Servem como um colete protetor com forças extraterrenas. São espécies de armaduras abençoadas, como dos cavaleiros cruzados que dizimavam os mulçumanos em nome da igreja cristã. Os jogadores fazem questão de mostrá-las quando dos gols, das comemorações, sabendo que serão captadas pelas lentes das câmaras de televisão e fotógrafos, que replicarão suas “mensagens de deus”.

Isso sem falar nas entrevistas depois dos jogos. “Graças a deus nosso time venceu”. Ou: “ganhamos porque o senhor está do nosso lado”. Ou ainda: “o gol foi obra de deus”. Mas então, deus está escolhendo determinados jogadores? Está, descaradamente, torcendo por esse ou aquele time? Premia somente os atletas “evangélicos” que pregam a necessidade da fé nele em atos, palavras, mensagens?

Estão se tornando cada vez mais comuns as expressões: deus ganhou...deus guiou meu chute...deus está sempre do nosso lado... E do lado dos adversários quem se coloca, o diabo? Perde-se ou ganha-se um jogo humano por interferência de forças divinas? Nelson Rodrigues teria razão e existe realmente um “sobrenatural de Almeida” que baixa nos campos de futebol?E na sua melhor forma, como deus?

Tenho que confessar uma paixão até cega por futebol, sempre a tive. E até por força dessa paixão penso que deus, se realmente existir, se diverte com esse jogo dos homens e com seus 22 atores como meros jogadores de pebolim, sem, contudo manipulá-los, deixando que a bola decida por seus destinos.

6 comentários:

Anônimo disse...

Tens toda razão!!!

Anônimo disse...

Não sabe do meu orgulho em ter tão perto de mim um autor de tamanha qualidade. Teu texto, seja poesia, crônica, conto, release, é sempre maravilhoso. Este do deus do futebol é mais uma jóia rara. Estava na Ressacada terça é foi lindo, emocionante, único. Acredito em Deus e te digo uma coisa: é possível que ele chute com os pés do Evando mesmo. Os avaianos acreditam nisso. Mesmo os ateus. Beijão do teu amigão e cumpadre.

Anônimo disse...

Esqueci de dizer uma coisa Chiko: é possível que ele também chute com os pés do Martini.
Scardu

Anônimo disse...

Fé é como paixão. É intensa. é insana, é louca. Fé é como paixão. É cega! Não é compreensível. É só sentida. Não há conceito que a decifre. Deus não existe só na fé. Deus navega na paixão, flutua no desejo e ancora no amor. Futebol é esporte, arte, guerra simulada, o que for. Um time é paixão, é amor, é fé. Os chutes, mágicos, impossíveis e as defesas inacreditáveis tem a mão, e o pé, de Deus. Pois só acontecem com a fé, a paixão e o amor. Abraços de que tem fé, paixão, amor e acredita em milagres. Mauro

XXX disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Quando entro em campo, costumo fazer o sinal da cruz, não para o amigo de cima abençoar meus chutes e minhas cabeçadas, mas sim para me proteger e agradecer por poder fazer algo tão fascinante.
Confundem proteção com apoio divino. A defesa de uma bola inalcançável não se trata mais de algo apenas do treino, ou de habilidades, e sim de forças superiores.
Apoio total sobre o texto!

A respeito do pebolim, chamado por mim sempre de pimbolim, realmente uma grande novidade. haha
Abç

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