Vídeo game televisivo
Chiko Kuneski
Na Europa o futebol voltou. Na Alemanha, na Espanha, logo volta na Inglaterra. Mas voltou, pós pandemia, confinamento, sem terra. Não falo dos gramados, como sempre irreparáveis; sem os terráqueos. Os campeonatos nacionais europeu voltaram como uma cara de brincadeira virtual. Retornaram como um vídeo game sem controle de quem joga.
As cadeiras vazias de pessoas, sem calor, foram substituídas por holografias, projetadas para a televisão. E de um gráfico dos anos 90 em plena segunda década do século XXI. Voltou como um vídeo game retrô. Pobre. O som da torcida, imaginária, é ainda pior. Um triste metálico, melancólico do vazio.
Mas chega de falar dos arredores do novo futebol. Dentro de campo há um tom retro do jogo. As marcações são métricas, a distância segura; não com antes, sem espaço. Sobra espaço. Os jogadores estão perdidos nesse novo futebol. Depois de tanto tempo jogando com a referência do contato, do movimento rápido, do raciocínio veloz, que diferencia os especiais dos comuns, têm espaços.
Espaço sobrando, qualidade faltando. Os jogadores nesse novo futebol não sabem o que fazer com o tanto espaço para receber a bola, livre, sem combate, que se limita ao olhar do marcador, à pelo menos um metro. O toque preciso de antes se oprime ao passe burocrático. Nas alas, os laterais ficam assistindo o jogo, sem nem uma cabeça adversária entre ele e a bola. Mas não há o passe. Há tanto vazio que os meias não olham para os lados. Procuram o vertical de um atacante, normalmente mal marcado.
O espaço sobrando deixa o raciocínio faltando. O pensar dos pés está lento. Não há mais o olhar de agudez do jogo. O olhar é “balse”, contemplativo. Há espaço, logo há tempo. Esse novo futebol pós-pandêmico parece um paciente saindo de um tratamento intensivo, sem intensidade.
Sobra a nós, espectadores desse vídeo game sem controle, torcer para que os craques, sempre diferenciados, saibam o que fazer com o maior espaço. Certamente brilharão mais. Que entendam isso e joguem esse jogo retrô com a maestria do passado. O futebol do antigo presente voltou morto, dificilmente retornará no futuro. Então, que o futebol do passado recomece e se reinvente. Mesmo que no vídeo game da vida nos gramados.