O prazer da preguiça

 

Em plena sexta-feira 

Como de costume

Não fui à feira

Quis me desrotinizar

Mudar o piscar do vaga-lume

Colorido e colorindo

Mas em preto e branco

No pirilampo do meu olhar

Aquietando, deixei-me sem lume

Todo o dia, noturnamente, a vadear



Redes

Por entre as malhas

Vem-me o mundo
Liberto e solitário

Livremente imundo

Em tanto imaginário
E eu, ali
Namorando a lua
Longes, assépticos

Foto: Chiko Kuneski

Vida atual

No correr da carruagem

 Somos o cavalo

 Preso às rédeas, à ferragem

 

Da sabedoria do envelhecer

Para prosseguir
Atrasei meu passo

Passei a decidir

O ritmo do paço

Fiz minha necessidade

Defini meu compasso

Respeitei minha idade

Parei de atrás correr

Para tantos, tontos

Ando, agora, à frente

Refiz-me gente

 

Imagem da paixão

 

O melhor beijo é o medido

Mensurado, mas incontido

Provocador e sentido

Para não ser o beijar perdido

Deve vir primeiro do olhar

Do quase tocar

Do prever o prazer do beijo

Tem que ser sempre o primeiro

Mesmo que pela eternidade

Pelo átimo da eterna idade

Um beijar derradeiro