domingo, 5 de junho de 2016

Nossos heróis

Cada vez que morre um famoso que marcou vidas; nasce um ídolo, um herói de carne e osso. Um mito materializado na fantasia de menino ou na lembrança de adulto. Vivemos dos mitos. Dos deuses criados. Dos heróis. Foi o dia de Muhammad Ali. O golpeador do convencional. Transgressor. Dançarino. Malhador a remoldar o retilíneo do duro vigor dos adversários.

Meu primeiro e grande herói tem nome de um deus grego: Dionísio, o deus agricultor das uvas e do vinho, mas também um representante não convencional da sociedade , do rompimento poder.  Na mitologia grega, o único deus filho de uma mortal. Até os deuses morrem. Os heróis são imortais.
Comecei falando de um ídolo do tubo, mas prefiro continuar com um herói que abraçava. Meu pai. Sem superpoderes, sem magia, sem ser guerreiro, mas com a maior virtude humana: festivo. Somente os festivos são transgressores. O ranço leva a mesmice. Ao comum. O ídolo midiático e meu herói palpável tinham isso em comum.
Festivo talvez devesse ser o maior adjetivo do herói terreno. Alegre. Honesto. Sensível. Pacífico, amigo e respeitador. Mesmo quando golpeava o ferro em brasa para moldar as formas.
Meu grande herói era apenas um metalúrgico. Um construtor de instrumentos que construíam sonhos. Desejos. Erguiam mundos. Um inventivo do duro metal retilíneo. Um idealizador tridimensional do plano. Simples, mas com o conceito do mais requintado escultor. Um moldador. Forjava a forma. Construía o forte.
Começou carregando-me nos ombros num momento mágico do menino apaixonado pelo futebol na conquista do tri, 1970. Nos ombros por não poder andar. Fez-me voar. Depois deu-me muletas, asas de aço construídas de sua curiosidade e seu conceitos de deus humano e de homem metalúrgico. Forjador. Deu-me a sabedoria conselheira. A alegria genética festiva, herdada pelo nome de um deus grego.
 
Foto do martelo artesanal me presenteado por meu pai Dionísio.
 

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