segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O iludido


Chiko Kuneski
“Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é”.
Caetano Veloso
A estrofe é a máscara do futebol. Da paixão. Do sofrimento. Da raiva. Da euforia. Somente o apaixonado torcedor entende essa máxima. A dor e a delícia confundem-se a cada jogo. A cada derrota devastadora que o faz um naufrágio iminente; com o bote salva-vidas da vitória seguinte. No jogo essa dicotomia acontece a cada minuto, ou até segundo. Um gol adversário dói; um gol do time vira euforia.
A magia do futebol está na ilusão. O torcedor nega a realidade cruel do seu dia a dia quando volatizasse em alma de camisa. Transforma-se. Transmuta-se. Deixa de ser terreno e procura a delícia celestial da euforia coletiva do gol. Da vitória. Da conquista.
Mas no caminho sempre tem a dor, o sofrimento do derrotado, do gol adverso nos últimos décimos de segundo que devolve a dura realidade. Como um grande adeus à ilusão.  O apaixonado torcedor nunca dá adeus. Volta a vestir a alma etérea da camisa e a ilusão.
Os mesmos décimos de segundo que arraigaram a realidade da dor podem se transformar na etérea delícia de uma noite insone pela adrenalina eufórica de um título. O torcedor é a pura expressão humana da paixão irracional e inexplicável de gostar da dor e da delícia. Da ilusão.

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