Chiko Kuneski
“Cada um sabe a dor e a
delicia de ser o que é”.
Caetano Veloso
A estrofe é a máscara
do futebol. Da paixão. Do sofrimento. Da raiva. Da euforia. Somente o
apaixonado torcedor entende essa máxima. A dor e a delícia confundem-se a cada
jogo. A cada derrota devastadora que o faz um naufrágio iminente; com o bote
salva-vidas da vitória seguinte. No jogo essa dicotomia acontece a cada minuto,
ou até segundo. Um gol adversário dói; um gol do time vira euforia.
A magia do futebol está
na ilusão. O torcedor nega a realidade cruel do seu dia a dia quando
volatizasse em alma de camisa. Transforma-se. Transmuta-se. Deixa de ser
terreno e procura a delícia celestial da euforia coletiva do gol. Da vitória.
Da conquista.
Mas no caminho sempre
tem a dor, o sofrimento do derrotado, do gol adverso nos últimos décimos de
segundo que devolve a dura realidade. Como um grande adeus à ilusão. O apaixonado torcedor nunca dá adeus. Volta a
vestir a alma etérea da camisa e a ilusão.
Os mesmos décimos de
segundo que arraigaram a realidade da dor podem se transformar na etérea
delícia de uma noite insone pela adrenalina eufórica de um título. O torcedor é
a pura expressão humana da paixão irracional e inexplicável de gostar da dor e da
delícia. Da ilusão.
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