Escrever. Um verbo que só compreende quem o vive. Como respirar, comer, beber. A diferença é que você pode viver a vida toda sem escrever. Até o fatídico momento que escreve. É uma endorfina. Ativa. Criativa. Sensitiva. Escrever dá trabalho, mas traz prazer. Escrever poesia é beber dopamina das palavras. É êxtase.
Descobri, recentemente,
esse poder hormonal gratuito. Escrever. Escrever poesia. Dia a dia. Pensar
poesia. Viver poesia. Confesso...Foi mágico. Criar o mundo sem um mundo.
Confinado. Trancado. Imaginar outro mundo. Outros mundos. Como se o
confinamento fosse “celeste”, do olhar supremo, de cima, do todo. Um processo
criativo de respirar poesia, comer poesia, me embriagar madrugada afora bebendo
poesia.
Mas a poesia engavetada
é egoísmo, até consigo mesmo. É um origami da mais bela ave amassada por meros
papéis. Os pássaros, principalmente os imaginários, são feitos para voar. Voar
é se mostrar. Primeiro ao vento, também um condutor imaginário, invisível, mas
com uma força particular. Para o origami da poesia o vento é a energia, basta
abrir as asas e voar. Voar pelos céus, invisível, até se mostrar.
Assim se forjou o
Diário do Nada. Um pequeno origami apenas imaginário ganhando formas na
dobradura das palavras, às vezes rimadas, musicais, outras descompassadas e até
desconexas. Soltei esse pássaro de papel no invisível vento cybernético. Voou.
Mas todo planar tem uma aterrissagem.
Esse aterrissar deixa
de ser mero sonho de Ícaro e vira terreno, tem que se materializar para que
toda a mágica dobradura dure. O abstrato começa a dar lugar para o concreto e o
sonho da madrugada muda para um trabalho diuturno. Aquele desconexo tem que ser
transformado em lógica, organizado, planejado e executado. Com o braçal do
abraço.
Do escrever do etéreo,
do sonhar poesia; o suar do dia a dia. Projetar. Compilar. Montar. Negociar.
Vender sua ideia e desdobrar as dobras do origami fazendo a folha em branco
tomar outra forma. Realizar. Deformar para nova forma. Organizar. Revisar.
Mudar. Reinventar. Revisar. Até que aquele frágil pássaro de dobras imaginárias
vire um concreto perpétuo. Um livro. Ufa! Acabou! Engano. Agora o frágil
origami cresceu e precisa reaprender a sentir o vento, dominar novamente a
força eólica e voar, como livro: Diário do Nada.
Ck 05/12/20
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