terça-feira, 12 de setembro de 2023

Uma crônica por tubo


Chiko Kuneski


Ainda bem criança, lá pelos 9 ou dez anos, numa aula de redação escrevi uma crônica, muito tempo depois descobri que poderia classificar assim, sobe a paixão de um menino pelo futebol. Não, não era jogar, mas ver jogar. Um garoto que sumia de casa para ver seu time do coração pelas frestas dos velhos e desgastados portões do campo. Havia quem chamava de estádio, uma ironia. Era um pasto com duas traves uma pequena arquibancada e o mais importante...o jogo.

Quando não podia dar essas escapadinhas ou o jogo seria em outra cidade a saída era colar o ouvido no rádio, fechar os olhos e criar o que via pelas frestas na mente. Pouco importava se o locutor exagerava, ou, até inventava emoção. Na sua paixão via a partida distante como se estivesse na frente de uma TV. Às vezes, quando era seu time de longe que só via pelo tubo nas transmissões domingueiras, essa fictícia realidade ficava ainda mais real.

Com o afã de poder ver os seus times, que sempre lhe pareciam mágicos, o menino criou um invento, não menos mágico. Das ondas do rádio e das vozes dos locutores a criação materializava imagens como as dos jogos pela televisão. Era um sonho dentro do sonho.

Não lembro se tirei boa nota com os dois delírios. O futebol e a redação. Mas isso pouco importa.

Hoje aquela imaginação infantil se materializa quase que diariamente. O futebol por tubo. Ou melhor, por tubos. Com as transmissões por satélite o mundo virou o campo e a tecnologia as frestas dos velhos portões. Nunca o futebol se mostrou tanto por meras ondas magnéticas convertidas em imagens.

Com a internet o futebol pode ser visto pelas várias plataformas de transmissão. O que era um poder absoluto das TVs ramificou-se por outros canais. Os “streamings” trouxe o futebol para o bolso, para a tela do celular. Melhor. Invadiu até as telas dos aparelhos de TV.

Jamais os jogos foram tão por tubo. Esse menino da primeira redação de uma espécie de ficção científica, viveu o bastante para escrever sobre sua paixão, ainda pulsante mesmo adulta, e nessa autêntica Crônica por Tubo. Como é o futebol.

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