domingo, 27 de julho de 2008

Descanso

O domingo se foi
E meu bode com ele
Ruminando seu domingo
Foi-se indo
Sem pensar
Ruminando o dia
Digerindo

domingo, 20 de julho de 2008

Deu na trave




Todo dia, antes de começar o treinamento, o goleiro alisava a trave. Como o cavaleiro acariciava seu cavalo, conversava com quem poderia ser sua glória ou seu algoz. Sabia que dependia dela, que marcava sua vida de goleiro em passos, metros, centímetros definitivos. Não seria um goleiro sem sua trave. Melhor que confiasse nela.

Era sempre seu ponto de referência. Sua mira para o golpe de vista, como gostam de dizer os locutores e comentaristas esportivos. Como se golpe não fosse contra si próprio. Diriam melhor se chamassem os três “paus” da trave de referência. O goleiro sabia disso. Só goleiro. Na solidão dos extremos do campo. Como as traves.

Quantas vezes ela o tirou de apuros em jogos importantes, sendo a extensão da ponta dos dedos a impedir a consagração do artilheiro. Como ele, mais lembrada pelo desalento adversário, do que por alegria dos torcedores do time “bafejado pela sorte”. O torcedor vibra com a trave, sacudida pela explosão da bola, mas faz questão de esquecer o lance, assim que acaba.

A bola na trave é o misto do “huuuu” de decepção; com “huuuu” de alívio. Não altera o placar, mas altera a relação amorosa do goleiro com a trave. Como uma amante. Defende o amado. Vibra sonora a chamar sua atenção; ou, traiçoeira, empurra a bola para o gol. O goleiro sabia disso. Antes de começar o jogo, conversava com ela. Mimava. A fazia gostar dele. Mesmo sendo duas, dividia-se.

No jogo mais importante de sua vida, o que valia o grande campeonato, o goleiro estava nervoso. Tenso demais até para falar com a trave. Só pensava nele. Na responsabilidade. No título da carreira. No primeiro tempo a bola no travessão salvou todo o time, mas ele, focado, não acariciou, agradecido, a trave. No segundo tempo, a trave, amante do goleiro, deixou a bola explodir ao seu encontro e, vingativa, fez rebater de encontro às suas costas. De joelhos, entre as traves, o goleiro escutou o estufar da rede encontrando a bola.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Instantâneos



Na mesma fração de instante

Que um homem ria

Outro homem caia

Provocando a situação instigante

quarta-feira, 9 de julho de 2008

sábado, 5 de julho de 2008

O ministro deu um “jeitinho”

O ministro da Justiça Tarso Genro poderia ser processado por tentativa de formação de quadrilha. Ao externar que os policiais de trânsito usem o bom senso para definir o ínfimo consumo de álcool contido em doces, anticépticos bucais e até remédios homeopáticos, a autoridade do ministro sugere que os infrinjam a “lei seca”.

A lei, apesar de conter inconstitucionalidades flagrantes, enquanto em vigor, deve ser aplicada em sua totalidade. Ou pode ou não pode. Não cabe a um policial decidir se a quantidade de álcool no sangue do cidadão está infringindo ou não a lei. Arbitrar, se é que a lei o permite, cabe a um juiz; nunca ao policial.

Quando sugere o uso do bom senso, o ministro da Justiça descumpre o preceito da Justiça em que todos são iguais perante a lei. Ou consumiu ou não consumiu álcool, e ai não interessa à lei de onde o álcool veio. O ministro cria com sua “recomendação” uma “quadrilha” de policiais com o poder de decidir acima da lei. Instiga um aparelhamento de Estado contra o cidadão.

Quem deveria zelar pela cidadania, passa a ser um juiz. Julga sem autos. Julga pelo “bom senso”, pretendido pelo ministro da Justiça. Interpreta uma lei, dura e que coloca o cidadão como culpado ante o direito à defesa plena, pelo bom senso, que muitos não têm, e não pelo enunciado da lei.

O Estado autoritário que o ministro da Justiça representa já acabou com o direito básico do cidadão ao obrigar a prova de inocência sem a comprovação de culpa. O uso compulsório do “bafômetro” transforma todo motorista em infrator mesmo sem o uso de álcool. Dá ao aparelho de Estado o poder do constrangimento. Rasga a Constituição obrigando o cidadão a criar prova contra si.

O ministro da Justiça faz pior. Sugere o famoso “jeitinho brasileiro”, tão contestado e discutido no país, como conduta oficial do aparato de Estado. Age como mentor de uma “quadrilha” que poderá ficar acima do “bem e o mal” e interpretar a aplicação da lei.

Tarso Genro instuticionaliza o descumprimento da nova legislação. O que é pior, por quem deveria agir com rigor para que ela seja cumprida. Mesmo podendo ser inconstitucional, e isso cabe a Suprema Corte, que não propõem “jeitinhos”, definir.

Empáfia argentina e enganação

Chiko Kuneski Existe uma piada da época em que não havia o politicamente correto que diz: “o melhor negócio do mundo é comprar um argent...