Chiko Kuneski
Sempre comunguei com o
enunciado que um homem dever ter pelos menos uma fé absoluta e fazer dela sua religião
particular. O meu ritual místico é o futebol. Encarna-se no manto sagrado
rubro-negro. Meu time em campo é mais que futebol é adoração é veneração é uma
religião pagã de ídolos passageiros.
Um padre jesuíta me
disse certa vez que todo homem tem direito a uma paixão imutável. Acho que
entendeu que a minha tem nome: Flamengo. Assistir o rubro-negro é mais que ver
futebol; é adorar os 90 minutos do “culto” mágico de sair de uma realidade para
uma fantasia absoluta de plenitude ou frustração. Professar a fé por um time é
ir do nirvana ao inferno, e isso pode acontecer em meros segundos dentro do
atemporal cronômetro do torcedor.
O inferno é bem mais
fácil nesse fascínio místico. Acho mesmo que até mais comum e lógico. Mas não
existe lógica na paixão.
E o inferno parece se
apoderar mais rapidamente quando há um motivo. A cada dor se espera uma analgesia.
Algo que suprima os sintomas. Traga meros momentos de relaxamento. O futebol
serve também para isso. O futebol com paixão é uma morfina da alma ministrada
via adrenalina. Aclama, relaxa, tira a dor, sossega.
Respirei isso o dia
todo. A morfina da “alma” no Fla Flu. A emoção pelas homenagens de dez
adolescentes que morreram por um sonho, talvez o mesmo sonho que o meu da
paixão do futebol e de um clube escolhido na pureza de criança, aumentou a
adrenalina. Pilhei. Vesti o manto. Tomei no cálice. Endorfinei.
Mas o inferno é mais
fácil que o nirvana. Decepção. Desilusão. Paixão desconexa. Dor. Novamente a
dor. Tudo provocado por um time sem paixão. Sem honra do manto. Sem respeito
aos que deram a vida pela religião de torcer pelo Flamengo. Covardes,
acovardados. Midiaticos no sofrimento. Mentirosos. Enganadores dos enganados.
Um time sem alma. Sem
espírito de luta. Sem vontade. Sem rumo. Sem comandante. Um Flamengo que me balança
a paixão de criança. Meramente o um grupo de corpos falsamente vestindo um
manto de que não foram dignos. Um embuste.
Voltei a chorar pelos
dez meninos que deram corpo e alma por sua paixão. Os homens em campo
praguejei.
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