“Nada que a tecnológica
e fria lente captura não foi visto antes pelo olhar do Homem”.
Chiko Kuneski
Acabou...acabou a
catarse. A Copa é catártica. É a fantasia máxima. A verdadeira personificação
do bem e do mal. Do céu e inferno. Que elege divindades terrenas, feito os
deuses do Olimpo a escolher seus favoritos. Somente na Copa do Mundo somos
milhões de deuses. É a magia que faz torcer até pelo desconhecido. Mas, como
toda catarse, tem prazo de validade.
Especialmente para os
que já a frequentaram por décadas. Jogadores, técnicos e torcedores. A Copa é
como uma cópula. Orgástica. Um conjunto de corpos suando. Vem num crescente.
Começa no exagero e afunila para o mágico. Mas acaba num súbito inexplicável.
Bons para uns; satisfatório para outros. Mas é uma cópula universal.
A Copa da Rússia foi a
primeira realmente do século XXI. Tecnológica. Sobre humana. O frio olhar
angulado das câmeras decidiu jogos, resultados, carreiras e vidas. P ela primeira vez nós, os apitadores de
televisão, nos sentimos juízes do jogo. Não decidimos, até porque seria
impossível uma decisão unânime de milhões. Mas vimos o mesmo que o árbitro viu.
Julgamos. Absolvemos e condenamos.
Três letras. VAR (Video
Assistant Referee), em inglês, ou árbitro de vídeo, em bom português, determinou
destinos na Copa. Uns detestaram. Outros aprovaram. Como qualquer árbitro foi
aplaudido quando a favor e criticado quanto contra. É do torcedor. Contestar
até o incontestável. A paixão é cega e, com diz Mauro Pandolfi, “futebol é um jogo
de olhares”.
Difícil, ou quase
impossível, ter olhares em catarse. Só há paixão. O VAR, tão temido por muitos,
muitos aos quais me incluía, por poder destruir
a grande magia da ludicidade da dúvida do futebol. Criou uma nova tendência. A
do erro da imagem. O futebol é tão mágico que nem o frio olhar das lentes
arrefece a paixão.
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