sexta-feira, 18 de junho de 2021

 

Não se explica as coincidências das paixões

 

Ck

 

A primeira paixão futebolística é como a primeira namorada platônica, seja a menina da carteira do lado ou a intocável professora do alto da plataforma. Mas são as paixões que nunca se esquece. Na escolha do time, ou até dos times de futebol, é quase igual. A paixão logo ali do lado ou a distante. Às vezes, dependendo da época as duas. Essas nunca deixarão de ser as primeiras paixões e as que sempre povoam nossos sonhos até, para os mais insistentes, a morte.

 

Comigo a tal menina do lado do futebol foi o Paysandú, de Brusque, para os menos conhecedores do futebol, o verde e branco, e a professora o Flamengo, o rubro negro. Torcer para o Paysandú era ir a campo, gritar, ver ao vivo a magia dos passes, dos toques, dos gols gritados abraçando o alambrado como o melhor amigo. torcer pelo Flamengo era o platônico de apenas ver de longe pelo mágico tubo da televisão, em branco e preto, onde o preto era preto e o vermelho era cinza. Mas era o rubro negro sem alambrado. Era a paixão televisiva materializada nos botões do futebol de mesa a cores.

 

Duas paixões que sempre acordam nos sonhos para fatos. E os fatos mostram que os deuses do futebol gostam de brincar com as paixões. De suas coisas em comum e incomum.

 

Pois Paysandú e Flamengo, apesar de suas distâncias no futebol, o de Brusque na lembrança do menino do alambrado, o do Rio de Janeiro campeão do mundo, despertaram meu menino num falto insólito. Acho que não há essa coincidência no futebol brasileiro. Ambos foram campeões em campo sem títulos de fato ou outorgados.

 

Começando pelomais querido”, o Paysandú de Brusque foi campeão catarinense em 1956, jogando contra os principais clubes profissionais do estado dos times mais tradicionais do futebol catarinense. Foi campeão de fato em campo mas... Naquele ano a então organizadora do futebol do estado dividiu a disputa em dois torneios: o grupo especial (os times profissionais, entre eles o Paysandú) e o grupo da Liga (times amadores). Os dois campeãs dos grupos disputariam jogos finais para decidir o campeão de 1956. Paysandú venceu o grupo Professional, também chamado de Estadual. Foi o melhor dos times profissionais do estado.

 

Depois de três meses o torneio dos times amadores da Liga teve sua conclusão. A entidade do futebol estadual da época determinou que haveria uma disputa para decidir o campeão do estado. O Paysandú não mais treinava e dispensou mais da metade do time, enquanto o Operário, de Joinville, um time amador, continuava na disputa. Os dois jogaram as finais e o Operário venceu os dois jogos, sendo consagrado o único campeão de um torneio profissional com um time amador em Santa Catarina. Paysandú de Brusque foi o campeão estadual de Santa Catarina de 1956, mas o título acabou para o Operário.

 

Mas o que tem isso com o Flamengo do RJ? Loucura de torcedor por certo. Talvez paixão, a paixão é louca. Em 1987 a CBF não organizou o campeonato brasileiro. Um grupo de times, o Clube dos treze, resolveu organizar a disputa entre eles. A CBF voltou atrás e criou uma disputa nacional, como tantas outras dantes,  com dois módulos: O verde (dos times do Clube dos treze mais convidados) e o amarelo (o que seria a segunda divisão nacional). O Flamengo acabou campeão do Módulo Verde com o Internacional em segundo. no amarelo Sport Recife e Guarani foram decretado campeões depois de uma disputa de pênaltis que não acabou.

 

A CBF “virou a mesa” (a CBF sempre vira a mesa ao seus interesses e conveniências) e, como não houve campeão do Módulo Amarelo, decidiu que aconteceria um quadrangular entre os quatro melhores dos dois grupos. Flamengo e Inter e Sporte Recife e Guarani. Os times do Clube dos treze se recusaram a aceitar a “virada de mesa da CBF” e não jogaram as finais da CBF. Com os dois eliminados por WXO, Guarani e Sport Recife fizeram a final do campeonato brasileiro de 1987, com o Sport sendo decretado campeão pela CBF.

 

Como o Paysandú de 1956, campeão em campo, o Flamengo teve que brigar por esse título nacional, chegando até ao STF.

 

Minhas duas grandes paixões de infância no futebol, mesmo separadas por um grande diferencial de times, me brindaram com uma coincidência única de títulos de campões conquistados de fato em campo e reconquistados por direito. Talvez importante para um torcedor apaixonado. Talvez...

 

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