Semana passada o escritório me convocou para uma reunião na Bahia. Tenho medo
de avião e sofro só de pensar
na ideia, mas como andava muito estressado
e o chefe convocou tão gentilmente, aceitei. Tava mesmo precisando relaxar. E, pelo que
todos dizem, na Bahia não
relaxar só para relaxados.
Nem preciso dizer que antes da viagem gastei todo o meu
estoque e Rivotril. A ansiedade, não, o medo, não, o pânico, só continha com as mágicas baguinhas. Mas sempre pensando que ia ser bom
na Bahia. Todos sempre falam maravilhas de lá.
No dia da viagem só não cheguei no avião dormindo porque homem que é homem se garante. E dá-lhe Rivotril.
O vôo
até que foi tranquilo. Fora as turbulências que impediram até
o serviço de bordo com o apetitoso saquinho de amendoim que dá gazes e suco artificial perfeito para gastrite, o resto da viagem foi moleza. Moleza minha que apagava e acordava com
os sacolejos. O rosto da aeromoça (moça?) me acordando em
Salvador pareceu visão de um
anjo. Finalmente em terra.
Mas tudo tem seu lado positivo, até os ímãs, e poucas horas em Salvador fizeram meu coração entrar na malemolência local. Santo remédio o clima. Deixei de tomar até
meu betabloqueador. O pulso não precisava de ajuda química e batia no compasso da cidade. Se tomasse a baguinha do cardiologista ia acabar com bradicardia. Isso sim.
Entrei no ritmo do coração e resolvi aproveitar. Mas
não tinha como não voltar ao “sul maravilha” e ler meus e-mails. Antes do jantar fui à sala de meios do hotel. Confesso que estranhei não
ter ninguém lá e o barulho da batucada que
rolava solta na piscina, mas precisava me
conectar com a matriz. Por sorte os computadores estavam ligados. Vai que
também já estivessem no compasso?
Acessei ao meu
Gmail. Normalmente basta uma clicada e as mensagens abrem em seguida. Normalmente, mas nada tem ritmo normal na Bahia. Uns cinco minutos depois e nada. Nem uma resposta. Apenas a insuportável ampulheta rodando na tela.
Comecei a me
sentir como no Sul. Peito apertado. Nó na garganta. Coração disparando. Suor frio nas mãos. Lá fora a batucada. Na tela só a ampulheta. A pressa. A necessidade. Arfava. A dor
no peito forte e nem mais Rivotril tinha. Sacudi o monitor. Gritei. Reclamei. Soquei. Já
entrando em pânico pela falta dos meus e-mails e remédios imprescindíveis, vi, finalmente, a tela abrir com a mensagem em letras garrafais:
PRA QUE A PRESSA, MEU REI.
Ck 9/6/21
Nenhum comentário:
Postar um comentário