quarta-feira, 9 de junho de 2021

Um hipocondríaco na Bahia

Semana passada o escritório me convocou para uma reunião na Bahia. Tenho medo de avião e sofro de pensar na ideia, mas como andava muito estressado e o chefe convocou tão gentilmente, aceitei. Tava mesmo precisando relaxar. E, pelo que todos dizem, na Bahia não relaxar para relaxados.

 

Nem preciso dizer que antes da viagem gastei todo o meu estoque e Rivotril. A ansiedade, não, o medo, não, o pânico, continha com as mágicas baguinhas. Mas sempre pensando que ia ser bom na Bahia. Todos sempre falam maravilhas de . No dia da viagem não cheguei no avião dormindo porque homem que é homem se garante. E dá-lhe Rivotril.

 

O vôo até que foi tranquilo. Fora as turbulências que impediram até o serviço de bordo com o apetitoso saquinho de amendoim quegazes e suco artificial perfeito para gastrite, o resto da viagem foi moleza. Moleza minha que apagava e acordava com os sacolejos. O rosto da aeromoça (moça?) me acordando em Salvador pareceu visão de um anjo. Finalmente em terra.

 

Mas tudo tem seu lado positivo, até os ímãs, e poucas horas em Salvador fizeram meu coração entrar na malemolência local. Santo remédio o clima. Deixei de tomar até meu betabloqueador. O pulso não precisava de ajuda química e batia no compasso da cidade. Se tomasse a baguinha do cardiologista ia acabar com bradicardia. Isso sim.

 

Entrei no ritmo do coração e resolvi aproveitar. Mas não tinha como não voltar ao “sul maravilha” e ler meus e-mails. Antes do jantar fui à sala de meios do hotel. Confesso que estranhei não ter ninguém e o barulho da batucada que rolava solta na piscina, mas precisava me conectar com a matriz. Por sorte os computadores estavam ligados. Vai que também estivessem no compasso?

 

Acessei ao meu Gmail. Normalmente basta uma clicada e as mensagens abrem em seguida. Normalmente, mas nada  tem ritmo normal na Bahia. Uns cinco minutos depois e nada. Nem uma resposta. Apenas a insuportável ampulheta rodando na tela.

 

Comecei a me sentir como no Sul. Peito apertado. na garganta.  Coração disparando. Suor frio nas mãos. fora a batucada. Na tela a ampulheta. A pressa. A necessidade. Arfava. A dor no peito forte e nem mais Rivotril tinha. Sacudi o monitor. Gritei. Reclamei. Soquei. entrando em pânico pela falta dos meus e-mails e remédios imprescindíveis, vi, finalmente, a tela abrir com a mensagem em letras garrafais:

 

PRA QUE A PRESSA, MEU REI.

 

Ck 9/6/21

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