Subindo ladeira pode parecer uma expressão incomum, ou incômoda, para começar uma crônica, até para mim mesmo, mas era exatamente o quer fazia. Atrasado. Atrasado como o dia-a-dia da vida moderna, onde todos sempre estão atrasados. Podemos nem mesmo estar indo para algum compromisso ou lugar determinado, mas, basta alguém parar-nos, seja para o que for, e ficamos atrasados.
- Desculpe, mas estou atrasado. Escapamos polidamente, às vezes perdendo a maior oportunidade das nossas vidas. As oportunidades nunca nos chegam carimbadas: “OPORTUNIDADE”. Temos que senti-las.
Voltando a ladeira, ou a subida, atrasado, e suando tudo o que um calor infernal me obrigava, apesar de nunca ter estado no inferno; sempre foi a imagem que fiz do sacrifício desde as intermináveis catequeses para a primeira eucaristia, fui parado, em meio morro, por um sorriso de uma morena jovial, sem pressa e com a frase pronta saindo dos lábios que beijaria, não estivesse subindo a ladeira e atrasado:
- Posso colocar essa chamada do senhor no seu bolso? Poderia, no meu mais puro sarcasmo agnóstico, compendiar sobre a inexistência de deus, qualquer que seja, mas estava atrasado e os atrasados sempre concordam com as piores circunstâncias. Concordei meneando a cabeça para não criar nem mesmo o laço verbal. Mas os que não têm pressa são persistentes.
- Jesus te ama e você (ai até meu atraso ficou pasmo com a concordância coloquial e sempre errada) é uma alma importante para ele. Por pouco não retruquei:
- Sempre disse que ele tinha bom gosto! Mas meu atraso agnóstico lembrou-me do tempo que perderia para explicar uma simples frase. Desde um ateísmo “xingativo”, até a possibilidade de me confundirem com aquela liderança do movimento gay, ops, GLBTTS ou qualquer alfabeto parecido, da Bahia, que levou até Shakespeare e Zumbi dos Palmares para o segmento, me fez engolir a ironia. As ironias não devem ser perdidas. Assim como as boas piadas. Mas estava atrasado.
No ônibus, também atrasado, meu atraso cotidiano permitiu a leitura do panfleto e qual não foi minha surpresa ao ver que a grande, grande não, única oportunidade da minha vida estava se apresentando. Depois dos logotipos da igreja, tudo tem uma marca, o endereço, telefone e até um moderno www para a página de internet, o horário dos programas. As almas sendo salvas com agendamento. Nada mais moderno.
Notei que, civilizadamente, o programa iniciava às 12 horas. Meus olhos brilharam pela grande oportunidade: almoço com Deus, grafo com maiúscula contra meu agnosticismo para ser fiel, agora ele não vai me perdoar, a gráfia do panfleto. Mas, crendices a parte, estava ali, posta, quase a mesa, a minha grande oportunidade. Almoçar com deus e provar para todos, para mim mesmo, que ele existe.
No dia seguinte desmarquei todos os compromissos até às 14 horas, não deveria ser um almoço curto, e cedo tirei meu velho carro da garagem para não correr o risco de perder a oportunidade ímpar por atraso de ônibus. Vesti-me a rigor. O rigor que a oportunidade exigia. Pela primeira vez dirigi sem pressa, até para não correr o perigo de um acidente casual no trânsito, e cheguei ao local do panfleto com grande antecedência. Fechado.
Os desígnios de deus também se atrasam, pensei esperando. Depois de intermináveis cinco minutos as portas se abriram e fui o primeiro a entrar. Nem todos reconhecem as oportunidades, voltei a pensar, satisfeito comigo mesmo.
A cinco minutos para a grande oportunidade e apenas eu e mais algumas pessoas sentadas esperando o maior almoço de nossas vidas. As pessoas realmente não conseguem sentir as oportunidades. Às 12 horas em ponto meu coração disparou feito alarme da hora marcada. Nada aconteceu. Uma música melosa encheu o prédio.
A música e o tempo foram passando e nada. Nem uma luz forte, que sempre imaginei, até pelas conversas com os espiritualistas, mostraria a chegada de deus, acendeu. Levei inclusive meus mais escuros óculos de sol para a possibilidade. Nada. Olhei o relógio. Incrédulo, levantei. Estava atrasado para o meu primeiro compromisso do dia. Não podia esperar mais por deus. Também ele atrasado.
- Desculpe, mas estou atrasado. Escapamos polidamente, às vezes perdendo a maior oportunidade das nossas vidas. As oportunidades nunca nos chegam carimbadas: “OPORTUNIDADE”. Temos que senti-las.
Voltando a ladeira, ou a subida, atrasado, e suando tudo o que um calor infernal me obrigava, apesar de nunca ter estado no inferno; sempre foi a imagem que fiz do sacrifício desde as intermináveis catequeses para a primeira eucaristia, fui parado, em meio morro, por um sorriso de uma morena jovial, sem pressa e com a frase pronta saindo dos lábios que beijaria, não estivesse subindo a ladeira e atrasado:
- Posso colocar essa chamada do senhor no seu bolso? Poderia, no meu mais puro sarcasmo agnóstico, compendiar sobre a inexistência de deus, qualquer que seja, mas estava atrasado e os atrasados sempre concordam com as piores circunstâncias. Concordei meneando a cabeça para não criar nem mesmo o laço verbal. Mas os que não têm pressa são persistentes.
- Jesus te ama e você (ai até meu atraso ficou pasmo com a concordância coloquial e sempre errada) é uma alma importante para ele. Por pouco não retruquei:
- Sempre disse que ele tinha bom gosto! Mas meu atraso agnóstico lembrou-me do tempo que perderia para explicar uma simples frase. Desde um ateísmo “xingativo”, até a possibilidade de me confundirem com aquela liderança do movimento gay, ops, GLBTTS ou qualquer alfabeto parecido, da Bahia, que levou até Shakespeare e Zumbi dos Palmares para o segmento, me fez engolir a ironia. As ironias não devem ser perdidas. Assim como as boas piadas. Mas estava atrasado.
No ônibus, também atrasado, meu atraso cotidiano permitiu a leitura do panfleto e qual não foi minha surpresa ao ver que a grande, grande não, única oportunidade da minha vida estava se apresentando. Depois dos logotipos da igreja, tudo tem uma marca, o endereço, telefone e até um moderno www para a página de internet, o horário dos programas. As almas sendo salvas com agendamento. Nada mais moderno.
Notei que, civilizadamente, o programa iniciava às 12 horas. Meus olhos brilharam pela grande oportunidade: almoço com Deus, grafo com maiúscula contra meu agnosticismo para ser fiel, agora ele não vai me perdoar, a gráfia do panfleto. Mas, crendices a parte, estava ali, posta, quase a mesa, a minha grande oportunidade. Almoçar com deus e provar para todos, para mim mesmo, que ele existe.
No dia seguinte desmarquei todos os compromissos até às 14 horas, não deveria ser um almoço curto, e cedo tirei meu velho carro da garagem para não correr o risco de perder a oportunidade ímpar por atraso de ônibus. Vesti-me a rigor. O rigor que a oportunidade exigia. Pela primeira vez dirigi sem pressa, até para não correr o perigo de um acidente casual no trânsito, e cheguei ao local do panfleto com grande antecedência. Fechado.
Os desígnios de deus também se atrasam, pensei esperando. Depois de intermináveis cinco minutos as portas se abriram e fui o primeiro a entrar. Nem todos reconhecem as oportunidades, voltei a pensar, satisfeito comigo mesmo.
A cinco minutos para a grande oportunidade e apenas eu e mais algumas pessoas sentadas esperando o maior almoço de nossas vidas. As pessoas realmente não conseguem sentir as oportunidades. Às 12 horas em ponto meu coração disparou feito alarme da hora marcada. Nada aconteceu. Uma música melosa encheu o prédio.
A música e o tempo foram passando e nada. Nem uma luz forte, que sempre imaginei, até pelas conversas com os espiritualistas, mostraria a chegada de deus, acendeu. Levei inclusive meus mais escuros óculos de sol para a possibilidade. Nada. Olhei o relógio. Incrédulo, levantei. Estava atrasado para o meu primeiro compromisso do dia. Não podia esperar mais por deus. Também ele atrasado.
Um comentário:
É só pra provar que Deus é brasileireo...
Se brasileiro se atrasa e se Deus é brasileiro, esta atividade está, naturalmente, penalizada..
Veja bem,
Iza.
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