sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A lógica lusitana da nova ortografia




Nesse período de festas e de mudança de ano, com quase todas as nossas preocupações com aquelas promessas que todos sabemos não vamos levar a sério além de janeiro, falar da alteração ortográfica para unificar a língua portuguesa pode até parecer rabugice minha, mas não é. As mudanças, assim como as promessas de ano novo, entraram em vigor logo na ressaca do primeiro dia do ano para piorar ainda mais a dor de cabeça.

Assim, sem mais nem menos, acordamos em 2009 com um “de volta para o futuro” na re-inclusão (espero não estar ferindo a reforma) das letras K,W, Y. Os tipos foram banidos do alfabeto brasileiro na década de 30 do século passado, em pleno Estado Novo. Será que a volta representa um novo Estado? Bem, digamos apenas que internacionalizaram nosso alfabeto devolvendo-o para as 26 letras usadas internacionalmente, pelo menos no ocidente.

Acabou o “trema”. O fim da crônica de uma morte anunciada pelos vestibulandos e usuários da Internet, que há anos nem se quer sabiam que ele existia. Estava moribundo e, enfim, desligaram o respirador artificial. Mas, se é para eutanasiar moribundos, porque o crase (sim, é masculino como o trema, é acento) continua sendo mantido vivo por aparelhos. O crase agoniza na língua faz décadas e não aproveitaram essa piscada de olhos do Vaticano para deixá-lo morrer junto com o amigo trema.

Agora, perfeitas mesmo ficaram as mudanças para o uso do hífen (com acento). Uma perfeita lógica “lusitana”. Alguns prefixos deixam de exigir o hífen quando diante de “R” e “S”, com as palavras ganhando as letras dobradas na nova ortografia. Por exemplo: “auto-retrato” fica autorretrato, “anti-social” muda para antissocial e “mini-reforma” se reforma para minirreforma. Já, e não me perguntem o motivo, os prefixos “hiper”, “super” e “inter” na frente de palavras que iniciam com “R” ganham o hífen. Só para exemplificar “inter-regional”. Pela lógica, não seria mais usual e muito mais fácil manter-se (enquanto ainda posso usar a forma) as letras dobradas para todos os prefixos?

Mas lógica não se discute, lógico. Nem a fôrma (que continua com o acento diferencial, que aliás caiu em outras palavras como “pelo”, “para”, “pera”, “polo” etc) da forma. Desta forma, vá se acostumando. Ano novo, alfabeto novo, ortografia nova e, pelo andar da carruagem (nada contra D. João VI), um sotaque novo: - ora, pois.

2 comentários:

Eloah Borda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eloah Borda disse...

Sem tempo para maiores comentários, embora não seja a favor dessa reforma ortográfica, há um item em que discordo de você quanto à lógica, é sobre as palavras compostas começadas pelos prefixos “hiper”, “super” e “inter” não dobrarem o “r” também, como em minirreforma, autorretrato, etc – nestas últimas, o “r”, dobrado para reforço de pronúncia, pertence à segunda palavra: mini/rreforma, auto/rretrato, o que não seria o caso de super/regional, por exemplo, onde já existem dois “erres”, um de super e outro de regional, escrevê-los juntos poderia causar problemas de pronúncia: supe/rregional. Ah, e quanto à crase, o acento grave é realmente masculino, como os demais, mas, no caso, ele é apenas usado para indicar “a crase”, que é a contração de duas vogais idênticas (especialmente dois “aa”), em uma só, por isso: “a crase. No mais, estou de pleno acordo.
Abraço. Eloah

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