domingo, 11 de janeiro de 2009

Somos todos doentes?



Androaldo já nascera doente. Sete meses. Mas a parteira garantiu que seria um menino forte. Avisou:

- Que sempre tenha alguém lhe cuidando. Isso é fundamental.

E assim foi.


Aandroaldo, uma homenagem ao avô Aldo e o prefixo de masculinidade para não o usar neto, já que o pai era júnior, compôs o nome, sempre estava cercado por "alguens". Nunca sozinho. Acostumou-se.

Sua vida era marcada por duas coisas inseparáveis: as enfermidades e alguém ao seu lado para dividi-las. Que graça teria ser doente solitário. Sofridos sempre precisam dos apiedados. Os hipocondríacos usam as doenças engendradas para ter atenção. Esse era o segredo de Androaldo.


Já no peito, fartava-se das mamas da mãe e, mesmo depois de vários arrrotos de alívio materno, quando deitado a dormir, caia no choro com cólicas. Sabia da solidão interminável das três horas sem a presença da mãe. Chorava a dor não sentida para chamar atenção. A principal doença dos hipocondríacos é a solidão.

Quando criança, Androaldo ganhou um irmão. Pior para os dois. Primeiro queria exterminar a concorrência. As cólicas chamavam mais atenção que suas intermináveis dores de barriga. Os choros eram mais agudos. Suas doenças menores. Mas todos crescem, tudo muda.


O irmão mais novo passou a ser seu companheiro de infortúnios. Não suportava uma diarréia sem o irmão ao seu lado, assistindo o irmão sentado à privada, agora coletiva, a compadecer das suas caretas coléricas. Para que servem as pessoas, principalmente as mais próximas, se não para sofrerem com a gente.


Androaldo inventava as doenças. Até mesmo quando as tinha. Valorizava. Era importante um motivo para que ficassem a sua volta. Vivia aos médicos sem que nenhum diagnosticasse realmente sua enfermidade. Gostava de contar para os amigos dos exames, detalhadamente, dos laudos. Fazia os a sua volta sofrerem com suas doenças. Até que alguém reagiu:

- Androaldo, deixa eu sofrer minhas dores. Nós os hipocondríacos sabemos que elas são insuportáveis.

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